Carta de Julian Assange: “Conto com vocês para salvar minha vida”.


Nocaute - O fundador e editor do site WikiLeaks, em carta ao jornalista Gordon Dimmack, pede apoio público e detalha as duras condições que enfrenta na prisão britânica de Belmarsh: “Estou indefeso e conto com você e outros de bom caráter para salvar minha vida”.

Em seu primeiro comentário divulgado ao público desde sua prisão, Julian Assange detalhou as duras condições que ele enfrenta na prisão britânica de Belmarsh e pediu uma campanha contra sua extradição para os Estados Unidos.

Os comentários de Assange foram feitos via correspondência para o jornalista britânico Gordon Dimmack, que decidiu torná-la pública após o Departamento de Justiça dos Estados Unidos apresentar 17 novas acusações contra o ciberativista.

Assange, que concedeu entrevista exclusiva ao Nocaute quando ainda estava asilado na embaixada do Equador, em Londres, é acusado de violar a Lei de Espionagem americana por publicar, em seu site, milhões de documentos secretos e sigilosos, incluindo os nomes de fontes confidenciais das Forças Armadas americanas.

A Justiça dos EUA também o acusa de conspirar e ajudar a ex-analista da inteligência militar americana Chelsea Manning a obter acesso a material confidencial em 2010.

Leia a carta de Assange a Gordon Dimmack.

Fui isolado de toda capacidade para preparar a minha defesa, nem laptop, nem internet, nem computador, nem biblioteca até agora, mas mesmo que eu obtenha acesso [à biblioteca] será apenas por meia hora junto com toda a gente uma vez por semana. Apenas duas visitas por mês e leva semanas para conseguir [inserir] alguém na lista de entrada. É uma situação sem saída (Catch-22) conseguir que os seus pormenores sejam examinados pela segurança.

Assim, todas as chamadas, exceto com o advogado, são gravadas e são num máximo de 10 minutos e num [período] limitado de 30 minutos em cada dia no qual todos os prisioneiros competem pelo telefone. E o crédito? Apenas algumas libras por semana e ninguém pode ligar.

[Estou diante de] uma superpotência que tem estado a preparar-se durante nove anos com centenas de pessoas e incontáveis milhões gastos no caso. Estou indefeso e conto com você e outros de bom caráter para salvar minha vida.

Estou intacto embora literalmente cercado de assassinos. Mas os dias em que eu podia ler, falar e organizar para defender a mim próprio, os meus ideais e o meu povo estão acabados até eu estar livre. Todos os demais devem tomar o meu lugar.

O governo dos EUA, ou melhor, aqueles elementos lamentáveis que odeiam a verdade, a liberdade e a justiça querem trapacear a fim de obter minha extradição e morte ao invés de permitir ao público que ouça a verdade pela qual ganhei os maiores prémios de jornalismo e ter sido nomeado sete vezes para o Prémio Nobel da Paz.

Em última análise, a verdade é tudo o que temos.

Tradução: resistir.info

O Wikileaks divulgou uma declaração sobre as sérias preocupações com a saúde de Julian Assange e confirmou que ele foi transferido para a ala de saúde da prisão.

De acordo com o comunicado, a saúde de Assange “já havia se deteriorado significativamente após sete anos na embaixada equatoriana” em Londres “sob condições incompatíveis com os direitos humanos”.

Especialistas do Grupo de Trabalho da ONU sobre Detenção Arbitrária declararam que Assange recebeu pena dura demais. Em declaração conjunta, o grupo se declarou “preocupado com o fato de Assange estar detido desde 11 de abril de 2019 na prisão de Belmarsh, uma penitenciária de segurança máxima, como se tivesse sido condenado por um crime penal grave”.