A tradicional Boca Maldita de Curitiba


A tradicional Boca Maldita é a parte mais nervosa do calçadão da Rua XV de Novembro, fica entre o Palácio Avenida e a Praça Osório.

Dizem os frequentadores mais antigos da Boca Maldita de Curitiba que o nome foi atribuido por senhoras recatadas da sociedade curitibana na decada de 50. Os jovens e comerciantes da região costumavam se reunir no local para conversar, beber café, e sempre que passava alguma moça bonita, os olhares se concentravam nas mulheres, para desespero das mães que aconselhavam as filhas a evitar o local: “aquilo é uma boca maldita”.

Segundo matéria publicada no Jornal do Juvevê em novembro de 2011 “Arquitetos, jornalistas, médicos, advogados, enfim, um grupo de amigos reunidos na Avenida Luiz Xavier – a menor avenida do mundo – decidiram, encabeçados por Anfrísio Siqueira, no dia 13 de dezembro de 1956, fundar a Boca Maldita. Alguns deles são: Orlando Carlini, Luiz Geraldo Mazza, Aderbal Fortes, Ivan Pereira, Salomão Daitzchman, Julio Gomel, Noel Nascimento, Abrão Fuchs, dentre outros.

Um lugar democrático, onde a opinião de todos é respeitada, onde atleticanos e coxas-brancas conversam amigavelmente e onde também encontramos desembargador papeando com engraxate.

Nesse reduto já houve, no decorrer dos anos, várias manifestações. Dentre elas, citamos: ‘Diretas Já’, ‘Fora-Collor’ e, recentemente, a campanha da OAB ‘O Paraná que queremos’.

Também foram realizados comícios históricos de candidatos a presidente (Getúlio Vargas, Lula, Collor, Brizola), de ex-governadores (José Richa, Moisés Lupion, Paulo Pimentel) e, por falar em governador, naquele mesmo local até um ex-governador já foi deposto.

O texto consta do excelente livro “Boca Maldita de Curitiba, reduto da democracia”, de Lineu Tomass.

Hoje a Boca Maldita continua ativa e fazendo parte da história da cidade. Seus frequentadores vão desde políticos famosos, escritores, juízes, desembargadores, ministros, empresários, comerciantes, até estudantes e figuras típicas da cidade.

As mais famosas manifestações pelas liberdades democráticas, pelas Diretas Já, iniciaram ou foram realizadas na Boca Maldita, entre as quais a entrega do Diploma de Delegado do Povo pelo Conselho Comunitário de Segurança do Bairro Água Verde de Curitiba ao delegado Protógenes Queiroz da Polícia Federal, em 2002, atualmente exilado na Suiça após perder o cargo de delegado por perseguição política, em retaliação por descobrir corrupção de um famoso banqueiro, amigo de um famoso ministro.

Diversos atos de solidariedade ao Iraque, Palestina, Líbia e Síria foram realizados na Boca Maldita, incluindo queimas da bandeira de Israel, em fotografias que correram o mundo.

A escultura de uma boca no local causou polêmica. A escultura é do artista plástico Elvo Benito Damo. Uma enorme boca com 47 dentes de bronze pontiagudos e reluzentes. Os frequentadores da Boca não gostaram e arrancaram todos os dentes da escultura que resiste, ferida, como prova da rebeldia e insubordinação de alguns dos frequentadores.

Quem visitar a cidade de Curitiba tem que, necessariamente, visitar a Boca Maldita, para conhecer um dos centros mais polêmicos de decisões políticas, filosóficas e esportivas da cidade. Muitos assuntos são decididos no local, entre um café e outro. E os frequentadores mais assíduos desenvolveram uma capacidade inigualável de evitar confrontos entre políticos e seus desafetos, entre inimigos políticos ou de times de futebol adversários que “trombam” no café. O ambiente é de tranquilidade e o respeito entre os frequentadores é lendário.

Durante os períodos eleitorais o clima esquenta, mas é algo normal porque na Boca Maldita pulsa uma das principais artérias do coração da cidade.

A Rua XV é o coração de Curitiba, e a Boca Maldita é o coração da Rua XV.


José Gil