O marketing de Bolsonaro é o do Bolsonaro, não o do BB


Fernando Brito - Tijolaço

Num exercício de sabujice que provocaria risos em qualquer evento de marketing, o presidente do Banco do Brasil veio apressar-se a dizer, em honra ao veto de Jair Bolsonaro ao comercial do banco que a propaganda “procurava caracterizar o cidadão ‘normal’ como a exceção e a exceção como regra”.

Chamo o senhor Rubem Novaes de sabujo para não chamá-lo de burro e incapaz de dirigir uma empresa que disputa mercado e mercado de relacionamento, diferente daquele de consumo eventual. Porque esta declaração o inabilitaria para a função, por incompetência.

Lembra-me um contemporâneo de faculdade – lá nos anos 70, vejam só – que o velho professor Cid Pacheco dizia que as empresas não inventam clientes, vão em busca daqueles que existem, e tentam seduzi-los. O tema do filme não é negritude, não é gay, não é trans, mas é o mundo jovem do qual eles são parte e que é avidamente disputado pelos bancos por uma simples razão: são aqueles que ainda não têm um relacionamento bancário e que, portanto, não resistem com a inércia natural à mudança dos que aqueles que já o têm.

O “personagem” central do filme é o celular e o “app” do Banco e não a cor ou o sexo dosque se alternam em seu uso.

Ainda assim, o sabujismo do presidente do BB é burro, também.

A preocupação de Jair Bolsonaro com a presença de negros ou gays num filme de propaganda é zero. Só um trouxa acha que isso pode se dever ao “conservadorismo de costumes” do presidente, nem sugere que ele queira usar a propaganda do banco para exaltar “respeito à família” que ele alega.

O marketing de Bolsonaro é outro, é o do “eu mando nesta p…”, o do presidente com autoridade, embora só a use em “abobrinhas”, porque em relação aos grandes porblemas nacionais não sabe e não quer agir.

A crise não cessa, a economia se arrasta, o desemprego se evela, o dinheiro encolhe, a previdência não traz benefício algum que seja palpável mas o presidente é “macho” e manda mesmo.

Como escreveu Gabriel García Marques, em seu “Outono do Patriarca”: a pátria e o poder de decidir o seu destino estão em suas mãos, sua vontade, pois ele é o patriarca – o pai da pátria – e o “dono de todo o seu poder”. E que, ainda que tenha “cheiro de merda” e seja habitada povoada por uma “gente sem história”, é o trono sobre o qual se assenta.

Isso é o que lhe importa, não os cabelos pintados dos sujeitos que aparecem no filme no filme, a quem o presidente do BB chama de “anormais”.