Fala o defensor da Rua XV, joalheiro Camilo Turmina


Ele é um dos mais tradicionais joalheiros de Curitiba, vice presidente da Associação Comercial do Paraná, proprietário da Camilo Joalheiros.

Leia a seguir entrevista exclusiva ao nosso jornal.

Fale sobre a sua trajetória como joalheiro.
Camilo – Comecei trabalhando com o Boiko Joalheiros. A gente sempre começa trabalhando com o seu futuro concorrente. Não precisa pagar uma franquia e faço exatamente tudo que aprendi. Trabalhei na Boiko durante sete anos e já vou para 37 anos que estou com a minha loja em um raio de 100 metros de distância. Eu conquistei uma clientela lá e continuo atendendo aqui. Sempre trabalhei aqui e temos mais uma loja no Shopping Crystal.

Nesses 37 anos, algumas joalherias da Rua XV fecharam suas portas,
Camilo – Na verdade joalheria é uma atividade muito familiar, tanto é que as minhas três filhas hoje trabalham comigo. Alguns joalheiros não tiveram a mesma sorte sucessória e fecharam. Posso citar a joalheria Pérola, que era do Kaminski. A joalheiria Aisental, que era bem importante. E muitos joalheiros saíram da Rua XV e foram para os shoppings centers, que é o caso dos Dalitz, a própria Bergerson, eles fecharam suas portas na Rua XV e foram para os shoppings. Houve uma mudança.
Na Rua XV nós fazemos muito esforço para manter um bom fluxo, um bom mix de produtos.
Na verdade nós estamos em débito com a cidade. Temos que ter uma nova legislação que trate de mix de produtos. Não podemos ter 20 lojas de bijouterias, nem outras 20 farmácias ao longo do eixo da Rua XV, na rua Ébano Pereira tem 5. Então nós temos que obedecer um mix, parecido com a alegria das pessoas que vão ao shopping center, que com 200 lojas eles podem comprar os produtos mais importantes para eles. Aliás, shopping center hoje tem até supermercado, como é o caso do Shopping Crystal. Então nós precisamos de leis municipais da Câmara, e uma observação do prefeito. E nós como comerciantes também temos que ter esse sentimento, apresentar variedade de lojas e produtos. Porque o consumidor não vem à Rua XV para comprar apenas um item; ele não vem apenas comprar um produto. Ele vai ao shopping onde encontra uma gama muito grande de produtos.
Nós temos de agregar valores para os consumidores. Não podemos ter na Rua XV só lanchonetes de péssima qualidade, e sim bons restaurantes. Precisamos agregar valores, pesquisas de mercado para descobrir o que o consumidor quer dessa rua, porque estamos falando do maior shopping a céu aberto do Brasil. A Rua XV é o maior shopping a céu aberto do país. São mais de 100.000 pessoas que passam por ela.
E nós, via Associação Comercial do Paraná temos procurado cuidar melhor dessa rua, inclusive com ações para que a rua fique mais segura. Durante a noite nós temos um vigilante com motocicleta que faz rondas das 20 às 6 da manhã, cuidando das pessoas,dos arrombamentos, dos pichadores, e das pessoas. Hoje as velhas pichações são de estabelecimentos de lojistas desleixados que não observam a importância de manter limpa e asseada a rua e a sua rua. Hoje nós temos uma queda de braço, dizendo aos lojistas para limpar a sua porta, limpar as pichações.
O prefeito Rafael Greca de um exemplo importante ao mandar pintar o Bondinho com tinta anti-pichação. Mandou pintar e aplicar um produto que permite retirar a pichação com água. Hoje existe um projeto ampliando toda a área central dessa ótica. O lojista deverá restaurar e aplicar produto contra pichação. Se voltarem a pichar, a Prefeitura vai se encarregar de limpar a fachada. Nós temos que agregar pessoas que gostem de Curitiba, especialmente da Rua XV, porque o comércio de rua é fantástico, é fundamental. As pessoas, os turistas quando viajam, não querem conhecer o shopping que tem a mesma cara igual em qualquer parte do mundo, ele quer circular na rua, conhecer a história da cidade, e a nossa melhor história é a Rua XV.

Nesse tempo que você está em Curitiba, o que aconteceu de melhor e pior.
Camilo – O que mais marcou foi que perdemos as grandes marcas. Algumas empresas que estavam na Rua XV hoje estão nos shoppings. Algumas antigas, que eram tradicionais na Rua XV, desapareceram. Hoje temos um comércio muito popular. A Rua XV é o maior corredor, o maior eixo da cidade para pessoas que vem de todos os bairros e passam pelo centro.
Muito serviços migraram para os shoppings. E ficamos com pequenos shoppings populares, de menor importância, porque vendem as mesmas coisas. Não há uma diversidade. Esse foi um grande prejuízo. Mas a Rua XV resiste enquanto local de transição e locomoção da cidade.
De pior temos o aumento da delinquência. Hoje a maioria dos roubos e assaltos na Rua XV são promovidos por ladrões em bicicletas que arrancam óculos, celulares e joias das pessoas. Os nossos pedidos à polícia não tem surtido efeito porque os marginais contam com a benevolência de um sistema onde eles são presos e rapidamente liberados para voltar a praticar os mesmos crimes. Crimes de pequeno porte são considerados irrelevantes. Mas muitas vezes esses bens representam momentos emocionais, fazem parte da história da família, então simplesmente fica por isso mesmo. A polícia já fez diversos movimentos, prende esses marginais mas eles voltam rapidamente às ruas. O marginal que rouba ele vende para um receptador, e o que estamos fazendo para punir esse receptador? Quase nada. Esporadicamente algum receptador é preso, mas é raro. Precisamos de mais segurança na cidade. Quando falamos sobre insegurança, é algo que atinge o empresário e o consumidor. Para se medir a qualidade de vida dos moradores de uma cidade, há que se considerar a segurança.

Quais as perspectivas para o próximo ano.
Camilo – São as melhores possíveis. Temos um novo governador, temos um prefeito que adora a cidade, sem dizer que se o governo federal praticar a lei vigente, sem precisar criar novas leis, será suficiente para melhorar a segurança e colocar todos os marginais em seus devidos lugares, nos presídios. De acordo com estatísticas da própria Polícia Militar, 20% dos marginais que deveriam estar presos hoje estão soltos. Se 20% estão soltos, estamos falando de 2.000 marginais que estão circulando entre nós. Então nos corremos um risco muito grande. Não é possível conviver o joio e o trigo juntos. É preciso separar.

Para finalizar, qual a sua mensagem.
Camilo – Penso que nós empresários temos que nos unir e oferecer respostas aos desafios atuais. Cito como exemplo um condomínio residencial no Jardim Social, onde uma única empresa de segurança administra um condomínio de 200 casas aproximadamente. No local, quando alguém chega em casa de madrugada ou durante a noite, tem uma motocicleta ou veículo com vigilante acompanhando e protegendo. Precisamos ter na Rua XV Hoje a polícia só tem capacidade de combater crimes que ocorrem, não tem condições para promover ações preventivas. Precisamos instituir na Rua XV e no entorno do centro uma vigilância privada. A iniciativa privada deve fazer a vigilância privada, contratando uma empresa para atender o centro. Hoje o que acontece? A lojinha tem uma empresa de segurança com sede na conchinchina, que não tem condições de atender a loja. Se todos estiverem unidos em estabelecer um eixo em toda a Rua XV e seu entorno através de uma empresa de segurança que atenda desde a pequena loja até a grande empresa, cobrando valores compatíveis com o tamanho de cada loja ou empresa, teremos mais segurança e maior volume de compras na Rua XV.