A Rua XV de antigamente e a atual

Houve um tempo em que você andava pela Rua XV durante a madrugada sem ser assaltado, ou agredido. Um tempo em que as pessoas andavam tranquilas pelas ruas, sem desconfiar das pessoas ao lado, sem apertar a carteira ou a bolsa contra o corpo para evitar ser roubado. Naquele tempo, durante a madrugada, saindo de um show na Marrocos ou passeando pela XV após um bom almoço ou jantar no restaurante Rio Branco, onde ao lado, no hotel Rio Branco, os políticos do interior fervilhavam. Tempo de tomar café na Confeitaria das Famílias ou no bar Cometa. Tempos de pessoas bem vestidas, educadas, respeitadoras. Tempos de pessoas inteligentes, para resumir a história, e não estes tempos atuais de viciados em drogas, celulares e computadores. Quem te viu e quem te vê, Rua XV de Novembro. Tempo em que os carros eram usados para transportar as famílias, para viajar, namorar, e não nestes tempos onde os carros servem para fazer rachas, atropelar velhinhos pelas ruas, disparar a mais de 150 quilômetros por hora, com aparelhos de som que infernizam a vida de todos, com milhares de decibéis para provar que são machos. Decadas atrás na Rua XV as pessoas eram cordiais, estavam sempre sorrindo. Hoje em dia, as pessoas estão envenenadas pelos filmes de Wollywood, pela filosofia consumista norte-americana que transforma os seres humanos em bestas consumistas. Que tempos aqueles... Quem viveu, se lembra com nostalgia. Quem não viveu não consegue imaginar um tempo em que comida tinha sabor de comida, bebida tinha sabor de bebida e não era falsificada, nem nos melhores bares e restaurantes. Época em que todos tinham tempo para passear na Rua XV, ver as moças bonitas e elegantes, os rapazes elegantes, calçando sapatos de couro e não de plásticos contaminados, feitos com lixo reciclável nos lugares mais poluídos e fétidos do planeta. Tempo em que conseguir um banco na praça Osório era questão de sorte. Hoje, os bancos são disputados por nóias, drogados e outras tribos que não existiam nos bons tempos. Boate naquele tempo era mais parecido com um clube social. Nesse ponto eu prefiro os tempos modernos, e tem outra coisa que não havia antigamente: Viagra. Oh presente dos deuses. O que seria da minha velhice triste sem o tal de viagra? Sem as garotas de programa que circulam em alguns locais da Rua XV e adjascências nos finais de noite? Baixando o preço do programa para encher de alegria o coração de um velho safado como eu? Outra coisa que hoje em dia é melhor, o desfile de garotas vestindo shortinhos cada dia mais curtos. Que beleza! Antigamente as mulheres usavam muita roupa, embora a mentalidade fosse outra, a cultura fosse diferente, mais conservadora. A liberdade de imprensa é outra coisa que merece aplausos. Antigamente você chamava um político de ladrão e ia preso, não importa se o político fosse mais ladrão do que você imaginava. Na Boca Maldita hoje em dia eu encontro muitos políticos ladrões e jornalistas corruptos. Que beleza. Eu até abraço alguns deles, são meus amigos. E sempre que encontro um deles, um em especial, digo “você é meu político ladrão favorito”. Ele ri, é gente boa. As vezes me convida para almoçar em restaurantes muito bons. E em toda campanha ele me entrega centenas de santinhos - é o preço. Fazer o quê? Na rua XV vejo diariamente pessoas dos velhos tempos, muitos estão morrendo, mas aqueles que resistem, que sobrevivem ao tempo, são pessoas boas e honradas A XV de Novembro é mais do que uma rua: é uma república de desgarrados, rebeldes, velhinhos tarados, local de negócios e negociatas, a alma torpe de uma Curitiba estranha. Velho Antero